domingo, 25 de abril de 2010

De mar e fogo

Procuras-me quando te procuro e
na madrugada crepuscular dos nossos
sentidos somos astro breve que
flameja, depois explode em rouco
grito. Sol que arde mas não se extingue.

Das ondas de amor que na nossa cama
sulcamos restam traços líquidos de
antecipação, vestígios de maré crescente
que te sobe no meu corpo e te mergulha
em meu ventre de profundas e densas águas.

Foste talhado por Pigmalião em
âmbar puro, amor.
Agarro-me a ti quando
no naufrágio do nosso corpo me
afundo e em voz baixa te peço
para desaguares em mim.

(27-Maio-2008)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Jogos de azar

Apostei que tinha o maior
valor, e perdi.
Fiquei sem aposta, sem valor,
sem vontade de apostar —
preferia cem mil vezes
não ter apostado nada.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Siboney

(para o Keats e o pai de minha amiga, onde quer que ele esteja)

A morte
não é fria nem paralisante
como a descrevem.

É quente como a rumba,
túrgida
como quem faz amor.

É clara

e plana, sonora
do rufar do tambor.
Conhecê-la

é chorar, sentir o cheiro
queimado do inevitável
sofrer.

E quem não conhece
a temperatura das lágrimas?